terça-feira, 7 de julho de 2020

Silenciosos Passos

Esses inquietos ventos andarilhos 
Passam e dizem: “Vamos caminhar,
Nós conhecemos misteriosos trilhos,
Bosques antigos onde é bom sonhar..."
Mário Quintana, 1935. 

O que primeiro se nota nos trabalhos é o silêncio atordoante. Até mesmo quando há multidão, há silêncio. Silêncio da alma que caminha apressada entre seus pensamentos. O silêncio é também das cores. Elas até começam a aparecer, tímidas, mas se ausentam rápido, tomadas pela cena que vêem. Elas não cabem ali. Nem brilho há. A dramaticidade do tema é ressaltada também pela textura. Têmpera. Denso como o que se vê. Traz junto consigo areia. Pesada. Mas areia de rio que corre leve. Não um rio qualquer. Um rio por onde várias vezes a artista brincou. E obras tão pesadas trazem em si o leve lúdico da infância. Mas na imagem o rio não corre mais. É estático. Estático como os personagens. Teimam em andar. A artista não deixa. Traz com o pincel a moldura, que as prende. E deixa assim a imagem para nós. Quem são? Para onde vão? Trazem neles um pouco da artista? Ou a artista se reconhece nesse andar? De solidão... de pensamentos... de infinitos... 

Lavínia Resende



                                            Ano Zero, 2007 - 180 x 135 cm - Têmpera s/ tela 




Berlim, 2007 - 104 x 130 cm - Têmpera e costura s/ tela




Estação São Bento, 2007 - 185 x 120 cm - Têmpera s/ tela






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